Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…
E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Saciedade - André Benatte
Se pudesse escolheria ter tudo.
Todas as cores e tablaturas
Desarranjos e sincronicidades.
Todas as praças e estruturas,
Visitaria todas as cidades.
Caminharia em todas as praias, vias e lojinhas de amenidades
(as mais fresquinhas e de melhor fragrância, por favor!)
As belezas proporcionadas aos olhos e o silêncio meditativo do próprio vento
acalmam as mentes agitadas e... finalmente vagas.
Indeciso? Não!
Apenas a plenitude do momento satisfaz a sede
com que tragamos a vida!
Paraíso sim!
E se mudasse de ideia,
Adeus, enfim.
Todas as cores e tablaturas
Desarranjos e sincronicidades.
Todas as praças e estruturas,
Visitaria todas as cidades.
Caminharia em todas as praias, vias e lojinhas de amenidades
(as mais fresquinhas e de melhor fragrância, por favor!)
As belezas proporcionadas aos olhos e o silêncio meditativo do próprio vento
acalmam as mentes agitadas e... finalmente vagas.
Indeciso? Não!
Apenas a plenitude do momento satisfaz a sede
com que tragamos a vida!
Paraíso sim!
E se mudasse de ideia,
Adeus, enfim.
sábado, 22 de dezembro de 2018
Eu com Duas Damas Vim. - Gregório de Matos
Mote
A mais formosa, que Deus.
Eu com dias Damas vim
de uma certa romaria,
uma feia em demasia,
sendo a outra um Serafim:
e vendo-as eu ir assim
sós, e sem amantes seus,
lhes perguntei, Anjos meus,
que vos pôs em tal estado?
a feia diz, que o pecado,
A mais formosa, que Deus.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Ideologia Divina - André Benatte
Ah, são!
São suaves e uniformes,
São conceitos, são manias,
ou disforme ideologia?
A verdade dos padres
ou a verdade dos profetas,
a verdade do munto inteiro
é só a duvida do poeta.
Imagine por um segundo
o Deus-Todo-Poderoso,
Ele diz: "É o fim do mundo!
Tudo acaba ao poente!
Não quero mais ser idoso!"
Imagine só o susto
daquele que esbarrar
em um Deus adolescente.
São suaves e uniformes,
São conceitos, são manias,
ou disforme ideologia?
A verdade dos padres
ou a verdade dos profetas,
a verdade do munto inteiro
é só a duvida do poeta.
Imagine por um segundo
o Deus-Todo-Poderoso,
Ele diz: "É o fim do mundo!
Tudo acaba ao poente!
Não quero mais ser idoso!"
Imagine só o susto
daquele que esbarrar
em um Deus adolescente.
domingo, 16 de dezembro de 2018
FANATISMO - Florbela Espanca
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa... ”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ... ”
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa... ”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ... ”
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Coabitar - André Benatte
Amigos ou agressores,
Algozes e perseguidos,
Juras de morte ou de amores,
Vossas senhoras e seus maridos.
Beleza e terror da coexistência
Sob o mesmo azul sorver o ar
Unidos em temor e coerência!
Sobre a mesma celeste pisar.
Ah, ser único é beber de outras fontes!
Daquele que o fere ou faz falta
É planar por outros horizontes
Ser tão livre quanto um astronauta.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Tu e Eu - Luis Fernando Veríssimo
Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Cordel de afeto - André Benatte
Dei-lhe a túnica,
e um trono em mim,
vivi sorrindo assim:
fiz de ti a única.
Conto de fadas
Você, pequena princesa,
Abafou a chama acesa:
Devoções sufocadas!
Foi furar-se com a roca proibida.
Assassinou a confiança,
a afeição e a lembrança!
Partiu desta vida.
Traiu-se,
Um pedaço meu levou.
Matou-se,
Como bruxa retornou.
e um trono em mim,
vivi sorrindo assim:
fiz de ti a única.
Conto de fadas
Você, pequena princesa,
Abafou a chama acesa:
Devoções sufocadas!
Foi furar-se com a roca proibida.
Assassinou a confiança,
a afeição e a lembrança!
Partiu desta vida.
Traiu-se,
Um pedaço meu levou.
Matou-se,
Como bruxa retornou.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Bilhete - Mario Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
domingo, 2 de dezembro de 2018
Instantaneamente - André Benatte
É necessário correr, e é necessário que seja rápido!
As frações de segundos são extremamente importantes.
Seja para o prazer ou para a dor
é primordial que algo aconteça.
Sem ritmo,
nem natureza.
Nuca arqueada, braços flexionados, olhos vidrados.
Dual necessidade de aprovação e endorfina.
Perder a vida para ganhar a audiência.
A beleza que pode ser apreciada é a mesma
que lhe aferrolha os grilhões!
Tudo em busca do próximo toque na tela
que lhe proporcionará o aplauso de um desconhecido...
qualquer.
As frações de segundos são extremamente importantes.
Seja para o prazer ou para a dor
é primordial que algo aconteça.
Sem ritmo,
nem natureza.
Nuca arqueada, braços flexionados, olhos vidrados.
Dual necessidade de aprovação e endorfina.
Perder a vida para ganhar a audiência.
A beleza que pode ser apreciada é a mesma
que lhe aferrolha os grilhões!
Tudo em busca do próximo toque na tela
que lhe proporcionará o aplauso de um desconhecido...
qualquer.
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Tempo - André Benatte
Queria mesmo mais tempo
Tempo pra dar um tempo
Tempo pra — de tempo em tempo —
olhar; e só ver passar o tempo.
Queria mesmo menos tempo
pra poder correr no tempo
Pra esquecer que nesse tempo
não me pertence nem o tempo.
Queria um tempinho
pra pensar.
Mínimo
pra mostrar:
Que QUERIA — Nesse tempo?! —
Já ajuda a passar no tempo
(o que evito)
Queria passear no tempo,
Agora quero o infinito...
Tempo pra dar um tempo
Tempo pra — de tempo em tempo —
olhar; e só ver passar o tempo.
Queria mesmo menos tempo
pra poder correr no tempo
Pra esquecer que nesse tempo
não me pertence nem o tempo.
Queria um tempinho
pra pensar.
Mínimo
pra mostrar:
Que QUERIA — Nesse tempo?! —
Já ajuda a passar no tempo
(o que evito)
Queria passear no tempo,
Agora quero o infinito...
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
Liberdade condicional - Mario Quintana
Poderás ir até a esquina
Comprar cigarros e voltar
Ou mudar-te para a China
— Só não podes sair de onde tu estás.
Comprar cigarros e voltar
Ou mudar-te para a China
— Só não podes sair de onde tu estás.
domingo, 18 de novembro de 2018
Lamento - André Benatte
Silenciosas...
Todas as noites sempre foram.
Não sei para os que já se foram,
aos que ficaram: sou grato.
Outra lei, outra linha;
E mesmo das liras que se escutam
ouve-se a verdadeira conversa
entre os que já se foram e os que ficaram.
Choro pelo que partiu
— pra que mesmo chorar? —
Ao recordar, esqueço
— Do que falava-se mesmo? —
Estou novamente a lamentar
ao que se foi e ao que sumiu.
Qual homem não lamenta
o que nunca possuiu?
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
Terrorismo - André Benatte
Passei uma vida inteira
repleta de números e de razão,
Trancado numa cela de madeira
O Prisioneiro: Minha afeição.
A cada pulsar de sua cela
O Prisioneiro gritava em meu peito,
Eu mantinha minha cautela
e continuava satisfeito.
Em um momento de loucura
soltei-o em minha inspiração,
Retornando a sua cela escura
Ele explodiu meu coração.
repleta de números e de razão,
Trancado numa cela de madeira
O Prisioneiro: Minha afeição.
A cada pulsar de sua cela
O Prisioneiro gritava em meu peito,
Eu mantinha minha cautela
e continuava satisfeito.
Em um momento de loucura
soltei-o em minha inspiração,
Retornando a sua cela escura
Ele explodiu meu coração.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
segunda-feira, 30 de abril de 2018
O GRITO E A BEIRA A MARGEM E A DOR - ADALTO FONSECA JÚNIOR
Na beira do rio soa um grito
Dorido grito que ecoa além da margem
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem caminha na beira escuta quem grita dorido na fronteira
Quem escuta o grito se esgueira pra longe da beira
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem escuta o grito sabe da dor
Quem anda na beira sabe da dor
Quem grita conhece a dor
A dor desconhece a fronteira
Quem grita de dor na margem precisa de quem caminha na beira.
Dorido grito que ecoa além da margem
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem caminha na beira escuta quem grita dorido na fronteira
Quem escuta o grito se esgueira pra longe da beira
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem escuta o grito sabe da dor
Quem anda na beira sabe da dor
Quem grita conhece a dor
A dor desconhece a fronteira
Quem grita de dor na margem precisa de quem caminha na beira.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
A falta que faz - André Benatte
A fagulha que se dá
no peito,
o andar disfarçado,
encarado,
sem jeito.
Um nome
pra escrever ao vento,
onde não se vê:
se sente,
e não sai do pensamento.
A imagem fixa
que embriaga,
conhece,
entorpece,
vaga...
Passos,
algumas vezes dados
em direção ao outro,
só resultam em desencontro,
quase sempre atrasados.
Os olhos,
que, lindos e tímidos vinham,
param,
encaram,
desviam...
As noites
cada vez menos sonolentas,
lembrando,
pensando;
noites sempre lentas.
A dor,
sentimento profundo,
penetrante,
constante;
a melhor dor do mundo.
...
Sinto falta,
da fagulha,
que se apagou;
de um nome,
que não encontro;
dos passos,
hoje adiantados;
dos olhos,
janelas diretas da alma;
das noites,
tão sonolentas quanto o dia;
da dor,
Ah! Sim!
É falta dela que eu sentia!
no peito,
o andar disfarçado,
encarado,
sem jeito.
Um nome
pra escrever ao vento,
onde não se vê:
se sente,
e não sai do pensamento.
A imagem fixa
que embriaga,
conhece,
entorpece,
vaga...
Passos,
algumas vezes dados
em direção ao outro,
só resultam em desencontro,
quase sempre atrasados.
Os olhos,
que, lindos e tímidos vinham,
param,
encaram,
desviam...
As noites
cada vez menos sonolentas,
lembrando,
pensando;
noites sempre lentas.
A dor,
sentimento profundo,
penetrante,
constante;
a melhor dor do mundo.
...
Sinto falta,
da fagulha,
que se apagou;
de um nome,
que não encontro;
dos passos,
hoje adiantados;
dos olhos,
janelas diretas da alma;
das noites,
tão sonolentas quanto o dia;
da dor,
Ah! Sim!
É falta dela que eu sentia!
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Poética - Vinícius de Moraes
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Epicurismo - André Benatte
Sinta muito pouco
Apaixone-se muito pouco
Tudo sempre quase nada
Modere raiva ou alegria
Sensação nenhuma em demasia,
Viva sempre quase nada.
Apaixone-se muito pouco
Tudo sempre quase nada
Modere raiva ou alegria
Sensação nenhuma em demasia,
Viva sempre quase nada.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
SER POETA - Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Guerra mundial - André Benatte
Pequenos traços
de esquecida memória
que descompõem a história:
os guardei em pedaços.
Todos eles escondidos
numa trincheira da guerra,
Alguns deles perdidos
na infértil e isolada terra.
Memórias fracas e tortas,
fracas e magras,
todas magras e mortas...
... e que holocausto as suas palavras!
de esquecida memória
que descompõem a história:
os guardei em pedaços.
Todos eles escondidos
numa trincheira da guerra,
Alguns deles perdidos
na infértil e isolada terra.
Memórias fracas e tortas,
fracas e magras,
todas magras e mortas...
... e que holocausto as suas palavras!
quarta-feira, 11 de abril de 2018
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Soneto da separação - Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Cacos - André Benatte
Difícil estar vulnerável
Esquecer o que se passou,
Reunir alguns pedaços
Cicatrizar o que restou.
Esquecer o que se passou,
Reunir alguns pedaços
Cicatrizar o que restou.
A verdade mais dura
É o erro mais comum,
O que evita o apaixonado:
Não cometer erro nenhum.
É o erro mais comum,
O que evita o apaixonado:
Não cometer erro nenhum.
Que maestria lhe compete
Tu, que simulas sentimento,
Muito entendes de viver
Mas sem amor: estás morrendo.
Tu, que simulas sentimento,
Muito entendes de viver
Mas sem amor: estás morrendo.
segunda-feira, 2 de abril de 2018
Solau à moda antiga - Mario Quintana
Senhora, eu vos amo tanto
Que até por vosso marido
Me dá um certo quebranto...
Pois que tem que a gente inclua
No mesmo alastrante amor
Pessoa, animal ou cousa
Ou seja lá o que for,
Só porque os banha o esplendor
Daquela a quem se ama tanto?
E sendo dessa maneira,
Não me culpeis, por favor,
Da chama que ardente abrasa
O nome de vossa rua,
Vossa gente e vossa casa
E vossa linda macieira
Que ainda ontem deu flor...
Que até por vosso marido
Me dá um certo quebranto...
Pois que tem que a gente inclua
No mesmo alastrante amor
Pessoa, animal ou cousa
Ou seja lá o que for,
Só porque os banha o esplendor
Daquela a quem se ama tanto?
E sendo dessa maneira,
Não me culpeis, por favor,
Da chama que ardente abrasa
O nome de vossa rua,
Vossa gente e vossa casa
E vossa linda macieira
Que ainda ontem deu flor...
sexta-feira, 30 de março de 2018
Luto - André Benatte
Luto
Pela felicidade perdida
Luto
Pela dor de um futuro passado
Luto
Pela memória destruída
Luto
Pra curar um coração cerrado
De Luto
Pela morte daquilo que você significava
E, principalmente, pelo homem morto que te amava.
Pela felicidade perdida
Luto
Pela dor de um futuro passado
Luto
Pela memória destruída
Luto
Pra curar um coração cerrado
De Luto
Pela morte daquilo que você significava
E, principalmente, pelo homem morto que te amava.
segunda-feira, 26 de março de 2018
Autopsicografia - Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
sexta-feira, 23 de março de 2018
In-Pureza - André Benatte
Nuvem negra subiu aos céus
E toda região inundou-se dela,
Eram todos fumantes de inconsciência humana.
Tombaram as árvores,
O verde,
A vida.
A nuvem assentou-se:
A terra vestida de preto
– Um funeral –
De que serve tombarem "as gentes"
Por motivo tão banal?
A nova terra,
Capa preta,
Pode retornar um dia,
Despida em verde.
Sai à rua,
Passa um carro
– Respira bem fundo! –
E sente-se livre da queimada,
Vivendo meio aos escapamentos cotidianos.
E toda região inundou-se dela,
Eram todos fumantes de inconsciência humana.
Tombaram as árvores,
O verde,
A vida.
A nuvem assentou-se:
A terra vestida de preto
– Um funeral –
De que serve tombarem "as gentes"
Por motivo tão banal?
A nova terra,
Capa preta,
Pode retornar um dia,
Despida em verde.
Sai à rua,
Passa um carro
– Respira bem fundo! –
E sente-se livre da queimada,
Vivendo meio aos escapamentos cotidianos.
sexta-feira, 16 de março de 2018
Morte Infindável - André Benatte
Aventureiro,
Sentou-se face à morte.
Chocado
Desdenhou a própria sorte,
Resistiu a tentação!
"Conhecer-te morte?"
Não teve medo dela
Teve medo de si.
Aventureiro,
Sentou-se face a morte,
Reconheceu-a
E tão rápido!
Moveu um obstáculo
Pra tapar a própria visão.
Não a via mais,
Mas,
Não aliviava-lhe
Não cedia.
Aventureiro,
Moveu-se,
Viu a beleza da morte.
Tinha o simbolo do infinito
– Todas as mortes o tinham –
Obstáculo?
Morte?
Obstáculo!
Aventureiro,
Sentou-se face a morte
Beijou-a
Fez amor com ela
Morreu feliz
Sentou-se face à morte.
Chocado
Desdenhou a própria sorte,
Resistiu a tentação!
"Conhecer-te morte?"
Não teve medo dela
Teve medo de si.
Aventureiro,
Sentou-se face a morte,
Reconheceu-a
E tão rápido!
Moveu um obstáculo
Pra tapar a própria visão.
Não a via mais,
Mas,
Não aliviava-lhe
Não cedia.
Aventureiro,
Moveu-se,
Viu a beleza da morte.
Tinha o simbolo do infinito
– Todas as mortes o tinham –
Obstáculo?
Morte?
Obstáculo!
Aventureiro,
Sentou-se face a morte
Beijou-a
Fez amor com ela
Morreu feliz
segunda-feira, 12 de março de 2018
Pequeno poema didático - Mario Quintana
O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore
Contra o vento incerto e vário.
A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.
Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são extremas!
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore
Contra o vento incerto e vário.
A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.
Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são extremas!
quarta-feira, 7 de março de 2018
Racional - André Benatte
Talvez paixão seja algo mais
Que difícil de descrever!
Causa tanto sofrer,
Não retorna nunca mais.
Não entende minha dor
O analista, fático,
Deveras: pouco prático.
Insensibilidade de pensador.
O que assola tanto o peito
Desse sujeito enigmático?
Cede: escreve o poema, e insatisfeito...
Volta a ser um matemático.
Que difícil de descrever!
Causa tanto sofrer,
Não retorna nunca mais.
Não entende minha dor
O analista, fático,
Deveras: pouco prático.
Insensibilidade de pensador.
O que assola tanto o peito
Desse sujeito enigmático?
Cede: escreve o poema, e insatisfeito...
Volta a ser um matemático.
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