domingo, 27 de março de 2022

Hiato

Algo no que diz parece

despedida. Essa é você fugindo?

Ou é mais um entretempo silencioso?

Algo no que espero é a silhueta

de um encontro. É minha dúvida gritando

ou sua incerteza murmurando?

É só mais um tempo? Um daqueles em que fingimos

que o cotidiano ocupa os segundos de algumas palavras?

É o conforto de não precisarmos lidar com as pairantes perguntas?

O silêncio grita. E o peito grita com o silêncio.

A reticência brada. Brada, clama e protesta em mim!

Demanda uma palavra a mais

que a torne diminuta.

Não sei se detesto pensar em versos

ou se aprecio versar a mente. 

Pois, é no vão do dessaber que mora

uma incerteza gelada e

uma esperança fervente. Ebulindo o desejo de um sussurro.

De um gemido.

E ainda que a calada não represente uma resposta

para as dores,

muitas delas falam baixinho na ausência da resposta. A calada

é uma resposta em si.

E por vezes ainda questiono se terei o benefício

da dúvida. Ainda que só me restem

dúvidas.

Dívidas alinhadas e divididas

para além das palavras.

Estímulos versados que querem ser 

abraço, calor, mordida e suspiro.

Ato. Anti-hiato.