Na beira do rio soa um grito
Dorido grito que ecoa além da margem
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem caminha na beira escuta quem grita dorido na fronteira
Quem escuta o grito se esgueira pra longe da beira
A beira é fronteira
A fronteira é margem
Quem escuta o grito sabe da dor
Quem anda na beira sabe da dor
Quem grita conhece a dor
A dor desconhece a fronteira
Quem grita de dor na margem precisa de quem caminha na beira.
segunda-feira, 30 de abril de 2018
sexta-feira, 27 de abril de 2018
A falta que faz - André Benatte
A fagulha que se dá
no peito,
o andar disfarçado,
encarado,
sem jeito.
Um nome
pra escrever ao vento,
onde não se vê:
se sente,
e não sai do pensamento.
A imagem fixa
que embriaga,
conhece,
entorpece,
vaga...
Passos,
algumas vezes dados
em direção ao outro,
só resultam em desencontro,
quase sempre atrasados.
Os olhos,
que, lindos e tímidos vinham,
param,
encaram,
desviam...
As noites
cada vez menos sonolentas,
lembrando,
pensando;
noites sempre lentas.
A dor,
sentimento profundo,
penetrante,
constante;
a melhor dor do mundo.
...
Sinto falta,
da fagulha,
que se apagou;
de um nome,
que não encontro;
dos passos,
hoje adiantados;
dos olhos,
janelas diretas da alma;
das noites,
tão sonolentas quanto o dia;
da dor,
Ah! Sim!
É falta dela que eu sentia!
no peito,
o andar disfarçado,
encarado,
sem jeito.
Um nome
pra escrever ao vento,
onde não se vê:
se sente,
e não sai do pensamento.
A imagem fixa
que embriaga,
conhece,
entorpece,
vaga...
Passos,
algumas vezes dados
em direção ao outro,
só resultam em desencontro,
quase sempre atrasados.
Os olhos,
que, lindos e tímidos vinham,
param,
encaram,
desviam...
As noites
cada vez menos sonolentas,
lembrando,
pensando;
noites sempre lentas.
A dor,
sentimento profundo,
penetrante,
constante;
a melhor dor do mundo.
...
Sinto falta,
da fagulha,
que se apagou;
de um nome,
que não encontro;
dos passos,
hoje adiantados;
dos olhos,
janelas diretas da alma;
das noites,
tão sonolentas quanto o dia;
da dor,
Ah! Sim!
É falta dela que eu sentia!
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Poética - Vinícius de Moraes
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Epicurismo - André Benatte
Sinta muito pouco
Apaixone-se muito pouco
Tudo sempre quase nada
Modere raiva ou alegria
Sensação nenhuma em demasia,
Viva sempre quase nada.
Apaixone-se muito pouco
Tudo sempre quase nada
Modere raiva ou alegria
Sensação nenhuma em demasia,
Viva sempre quase nada.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
SER POETA - Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Guerra mundial - André Benatte
Pequenos traços
de esquecida memória
que descompõem a história:
os guardei em pedaços.
Todos eles escondidos
numa trincheira da guerra,
Alguns deles perdidos
na infértil e isolada terra.
Memórias fracas e tortas,
fracas e magras,
todas magras e mortas...
... e que holocausto as suas palavras!
de esquecida memória
que descompõem a história:
os guardei em pedaços.
Todos eles escondidos
numa trincheira da guerra,
Alguns deles perdidos
na infértil e isolada terra.
Memórias fracas e tortas,
fracas e magras,
todas magras e mortas...
... e que holocausto as suas palavras!
quarta-feira, 11 de abril de 2018
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Soneto da separação - Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Cacos - André Benatte
Difícil estar vulnerável
Esquecer o que se passou,
Reunir alguns pedaços
Cicatrizar o que restou.
Esquecer o que se passou,
Reunir alguns pedaços
Cicatrizar o que restou.
A verdade mais dura
É o erro mais comum,
O que evita o apaixonado:
Não cometer erro nenhum.
É o erro mais comum,
O que evita o apaixonado:
Não cometer erro nenhum.
Que maestria lhe compete
Tu, que simulas sentimento,
Muito entendes de viver
Mas sem amor: estás morrendo.
Tu, que simulas sentimento,
Muito entendes de viver
Mas sem amor: estás morrendo.
segunda-feira, 2 de abril de 2018
Solau à moda antiga - Mario Quintana
Senhora, eu vos amo tanto
Que até por vosso marido
Me dá um certo quebranto...
Pois que tem que a gente inclua
No mesmo alastrante amor
Pessoa, animal ou cousa
Ou seja lá o que for,
Só porque os banha o esplendor
Daquela a quem se ama tanto?
E sendo dessa maneira,
Não me culpeis, por favor,
Da chama que ardente abrasa
O nome de vossa rua,
Vossa gente e vossa casa
E vossa linda macieira
Que ainda ontem deu flor...
Que até por vosso marido
Me dá um certo quebranto...
Pois que tem que a gente inclua
No mesmo alastrante amor
Pessoa, animal ou cousa
Ou seja lá o que for,
Só porque os banha o esplendor
Daquela a quem se ama tanto?
E sendo dessa maneira,
Não me culpeis, por favor,
Da chama que ardente abrasa
O nome de vossa rua,
Vossa gente e vossa casa
E vossa linda macieira
Que ainda ontem deu flor...
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